Tanto Megamind quanto Toy Story 3 são fantásticos. Obviamente, como qualquer filme, principalmente desenhos, vão ter mesmo que conter alguns lugares comuns, como lições de vida, mas são bem vindas e até reflexivas em Megamind.
Toy Story 3 retoma a história 11 anos depois. Mantém a perfeição e a magia dos personagens. As tiradas continuam ótimas e a gozação com a metrossexualidade (sinceramente nunca vou entender o que seja isso) do boneco Ken é muito boa.
Mas, sem sombra de dúvidas, Megamind é um dos melhores desenhos que já vi. Para mim foi o melhor filme de 2010. Tem poucos lugares comuns, é completamente transgressor, cômico, de uma paródia mordaz com referências brilhantes a inúmeros super-heróis dos quadrinhos e uma história ótima.
Megamind (Megamente) nos mostra o que aconteceria a um super-vilão caso ele finalmente destruísse o seu super-herói arquiinimigo, no caso Metroman, de uma forma cômica. Ambos são alienígenas, numa referência espetacular a Superman (Metroman, aliás, é tão chato e presepeiro quanto Superman, mas ainda consegue ser mais exibicionista). A referência continua quando Megamind se disfarça do pai de Superman, com a cara de Marlon Brando. Enquanto a nave de um cai em uma família boa e rica (na Casa Branca), Megamind termina caindo em um presídio. Na verdade, Megamind termina como vilão como fruto da rejeição das pessoas (que seria de Hitler se fosse um grande pintor antes de tomar o poder na Alemanha?). Megamind faz questão de ser o típico vilão estereotipado, tendo até uma vestimenta e capa especialmente criadas. Com a queda de Metroman, sem seu inimigo para lutar (e quase sempre perder), Megamind termina se entediando, perdendo o objetivo principal da sua vida e se cansando da moleza com que consegue levar o caos, o terror e o banditismo à população. Vi muitos esportistas, aliás, perderem a graça quando perderam o desafio do seu eterno rival. Hollyfield definhou após derrotar Tyson, sua obsessão, por duas vezes. Alain Prost, após a morte de Senna, seu maior competidor e inimigo, chegou a declarar que o automobilismo tinha perdido o sentido para ele.
Megamind conta com um bom elenco, como Will Ferrell no papel de Megamind, Tina Fey como Rosana, e Brad Pitt como Metroman, além do emergente Jonah Hill (muito melhor que o seu companheiro em “Superbad”, o homem sem face do cinema, Michael Cera) como Titan. Titan, aliás, é a criação de Megamind para substituir Metroman após a sua morte, dando-lhe um adversário. O tiro sai pela culatra e aí temos a maior transgressão já vista em um desenho: o pretenso novo super-herói não quer nada com a luta contra o crime, mas sim bagunçar mais ainda. Megamind vai ter que lutar contra outro criminoso e viver o dilema se é bom ou mau. Nesse ponto, principalmente, está a grandiosidade do filme, mostrando que nenhum mortal é completamente bom ou mal. E o principal pivô da discórdia, imaginem, é uma mulher (e nem é uma daquelas musas), a repórter Rosana, com o filme gozando com todo o poder de controle que a mulher exerce sobre os homens e sobre o mundo, só por ser... mulher! A segunda maior tirada do filme surge quando Megamind sofre uma derrota para Titan e exclama para ele, alegremente, que agora era a hora em que o herói mandava o vilão para a cadeia. Titan lhe responde que agora era a hora de enviá-lo para o necrotério... A primeira grande tirada é o mote (gozação com Obama) estampado na cidade por Megamind, que passa a ser um dos meus favoritos: “No, you can’t!”
A trilha sonora cai como uma luva, com direito a ressuscitar em grande estilo músicas do Guns n’Roses e de Michael Jackson. Apesar da crítica ter caído de amores pelo também excelente Toy Story 3, ouso preferir Megamind, que me surpreendeu até mais que o primeiro Shrek (dos mesmos criadores) e bate em sátira o bom “Os Incríveis”. Aliás, não estou ligando muito para indicações da crítica e altos índices no IMDB. Principalmente porque o aclamado “Scott Pilgrim” achei uma babaquice sem limites, com um enredo simplesmente ridículo, onde um bando de otários disputa uma promíscua trubufu, que mais parece oligofrênica grave, em lutas patéticas. Seria infantil, não fosse a insistência atual do cinema e da mídia em agradar e fisgar a audiência dos GLS (aos “enchedores de saco” de plantão: não faço aqui nenhum comentário pejorativo ou preconceituoso a essa turma, por favor), influenciando alguns jovens de cabeça oca. Os atores são horrorosos e mais uma vez Michael Cera faz jus ao sobrenome, pois é de fato feito de cera. Tem a mesma expressão e falta de entonação e emoção em todos os filmes que faz. Não sei como chegou tão longe. Nem tenho a mínima vontade de conhecer os tais quadrinhos e o famigerado jogo em que se baseou “Scott Pilgrim”. A única coisa que transgrediu foi minha paciência.
No, you can’t!