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sexta-feira, 28 de maio de 2010

You Don´t Know Jack (ou sobre a eutanásia).

Este excelente filme conta a história do Dr. Jack Kevorkian, o "Dr. Morte", com um elenco de peso, contendo atores como Al Pacino, Susan Sarandon, John Goodman. Foi um dos melhores filmes que já assiti, complexo, instigante e um pouco chocante e depressivo. Quer você tome partido contra ou a favor Jack Kevorkian, ou não consiga definir sua posição perante seus atos, o filme vai lhe inquietar. Para mim, uma das melhores atuações de Al Pacino (como Kevorkian), merecendo de forma imbatível um Oscar (bem melhor do que o seu papel no fraco e chato “Perfume de Mulher”). Al Pacino está idêntico a Kevorkian, inclusive nos gestos, no tom de voz e na postura. Nos EUA, o longa fez sucesso total, não tendo previsão de quando vai passar aqui no Brasil, de forma que peço desculpas por manter o título em inglês. É baseado no livro “Between the Dying and the Dead: Dr. Jack Kevorkian’s Life and the Battle to Legalize Euthanasia”, de Neal Nicol e Harry Wylie.

Quem quiser saber mais sobre Kevorkian, deve procurar na internet que vai achar farto material. Resumidamente, Kevorkian preconizou o suicídio de pacientes com doenças terminais na década de 80, criando metodologia própria, mas sempre envolvendo o consentimento do paciente e/ou parentes e o paciente era quem deflagrava a sua própria morte, com o equipamento por ele criado. Também filmava tudo, como prova documental. Kevorkian foi julgado quatro vezes por suas práticas: foi absolvido em três delas e um dos julgamentos foi anulado. Ficou preso por alguns anos (levou-se em conta a sua idade avançada), pois ousou ele mesmo praticar de forma direta a eutanásia de um paciente com esclerose lateral amiotrófica (doença terrível, incurável, incapacitante e que leva progressiva, lenta e inexoravelmente à morte, com paralisia muscular). Kevorkian ainda mandou o material para exibição na TV, o que foi considerado uma afronta à justiça (queria ele mesmo gerar a discussão sobre o assunto ou ganhar fama?). Nesse último julgamento, caiu em armadilhas judiciárias pois se expôs a isso, de forma que nem os parentes da vítima (que eram a seu favor) foram lconsiderados como testemunhas pela juíza. O interessante, é que apesar da oposição cerrada de boa parte das pessoas a Kevorkian, muitos o apoiavam, e algums pacientes terminais clamavam por ele, um deles chegando a comparar o seu ato como um presente que lhe seria dado.

Existe um outro problema que transcende a eutanásia. Estaria fazendo o Dr. Kevorkian por amor e piedade (sua mãe morreu em grande sofrimento, o que pode ter lhe traumatizado), por convicção de profissionalismo, por desejo de fama (chegou a ser capa da revista "Time") ou por prazer não declarado pela morte dos outros? Ou por quaisquer dessas razões combinadas? O interessante é que Kevorkian, descendente de armênios (que sofreram holocausto igual na mão dos turcos, na primeira grande guerra, ao que sofreram os judeus pelos alemães na segunda), também fez pinturas interessantes, que nos ajudam a ter uma leve percepção de sua mente inconformada e inquieta. Seria ele uma pessoa imbuída de boas intenções, um afixionado pela morte, o defensor de uma ideologia extrema ou o maior serial killer de todos os tempos, com mais de 130 mortes? Seu perfil, aparentemente, não coincide com o da maioria dos seriais killers. Suicídio assistido poderia ser considerado legal, já que induzir alguém ao suicídio é crime? Eutanásia é assassinato?

Não vou discutir detalhes filosóficos nem religiosos, nem tampouco defender ou acusar, o que pode decepcionar quem estiver pacientemente lendo o que escrevo ou suscitar opiniões de que não quero me envolver em encrenca. Mas, seja você a favor ou contra a eutanásia, cabem ainda as seguintes perguntas para reflexão:

Caso alguém não suporte mais a sua condição terminal, não teria o direito de decidir se quer continuar vivo ou não? Se for encarado como pecado decidir morrer para aliviar um sofrimento, por que Deus condenaria essa pessoa se Ele permitisse um sofrimento impossível de suportar, quando se é quase consenso bíblico que Deus admitiria um “limiar” de sofrimento suportável a cada um dos fiéis filhos, conforme, portanto a capacidade individual? Quais as principais diferenças e limites, e como determiná-los, entre eutanásia, suicídio assistido e indução de suicídio? Quais os limites da eutanásia, já que algumas doenças poderiam ser, quem sabe, curadas por nova terapêutica em desenvolvimento? Aberta essa janela, que doenças se candidatariam para uma eutanásia ou suicídio assistido, já que não há consenso científico? Até que ponto um doente terminal com extrema depressão ou com lesões cerebrais poderia decidir sobre a sua morte?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Alice no País das Maravilhas (ou gosto se discute?).

Começo já respondendo com opinião própria à pergunta subsequente ao título principal: gosto se discute sim senhor, a menos que nada tenha a ver com estética, mas com necessidades fisiológicas ou psicológicas. A frase "gosto não se discute" é de uma infantilidade e ilogicidade imensas. Fiquei chocado ao saber que uma aluna, em uma aula de Estética, dando sua opinião pessoal, de que a música erudita é superior às primárias composições carnavalescas caça-níqueis (não me acostumo sem o hífen e às vezes sem o trema, retirados à força da nossa língua pela ignóbil figura, por isso vou continuar escrevendo errado até a morte) da nossa “querida” terra foi atacada por diversos colegas, inclusive pela professora.

Perguntem a qualquer pessoa inteligente que entenda de música se isso não é verdadeiro. Se ela vacilar, quer fazer média ou tem medo de ser acusada de preconceituosa. É impossível achar que uma música construída historicamente, com complexidade instrumental e de acordes possa ser comparada com música repetitiva, pobre em acordes, a pretexto de se dizer que a cultura local tem que ser levada em conta. A única coisa aqui levada em conta é lavagem cerebral (o cérebro destreinado memoriza refrões fáceis com facilidade, o que é bem aproveitado por oportunistas). Faz-me crer que quem os que defenderam tamanho absurdo talvez defendam também o preconceito em si que já existe no carnaval de castas sociais e seus grandes ídolos, podres de ricos, com mansões e jatinhos particulares às suas custas.

Um conhecido meu, especialista em música clássica e grande apreciador de Mozart, confessou compor essas bobagens carnavalescas enquanto jantava ou assistia televisão, tamanha a pobreza e facilidade, para ganhar “uns bons trocados” sendo testa de ferro de outros. Mas como conheço muito da filosofia que é feita por essas bandas, sei que ela é geralmente pré-fabricada, segue correntes rígidas e não aceita críticas e discordâncias, indo contra a própria essência filosófica. Mas isso fica para outra postagem. Se gosto não se discutisse, diversos livros não existiriam, a crítica não teria lugar no mundo e ninguém perderia tempo discutindo quase nada nem em enquetes esdrúxulas pela internet.

Voltando ao primeiro assunto do título, ao contrário da imensa maioria, achei o filme “Alice no País das Maravilhas” péssimo. Nesse caso, meu gosto e o de todos é passível de discussão, por razões mais do que óbvias, e assim deve ser mesmo. Deixo claro que não passa da opinião de um pobre cinéfilo um pouco mais viajado, mas nunca especialista. Pode o filme em questão ter tido a aprovação da crítica e de 99,9% das pessoas. Pode ter batido recordes de bilheteria, mas não me convenceu. Viusalmente perfeito, é chato e não diz ao que veio. Francamente, aliás, não sou fã da obra-prima de Lewis Carroll. Embora ache nela algumas virtudes, acho que foi superestimada e virou uma espécie de sucesso com aval de considerações psicológicas furadas e de auto-ajuda chatas. O mesmo fizeram com “O Pequeno Príncipe”.


Acho que Tim Burton se perdeu na adaptação que fez deAlice no País das Maravilhas. Preferi mais a série de televisão dos anos 80 e o desenho animado da Disney. Helena Bonham Carter, uma das melhores atrizes da atualidade, perde na desfiguração que sofreu sua personagem. Aliás, se trabalhasse longe do marido diretor só teria a ganhar. Johnny Depp, a cada filme de Burton, está cada vez mais andrógino e caricato. Não faz jus aos seus bons desempenhos em outros filmes. Seu personagem é chato (como quase todos no filme), superexposto como nunca foi em nenhuma adaptação de Alice, talvez pela estranha obsessão que Burton nutre por ele. Mia Wasikowska está fraquinha como Alice. Não consegui ver metáforas feministas libertárias marcantes em suas atitudes, como alguns “alicemaníacos” viram. Largar seu insuportável noivo (que, de acordo com meu filho de 7 anos, mais parecia Rogério Ceni ou Luciano Huck) era mais do que óbvio. Meu filho, alíás, não aguentou ver o filme todo – e olha que ele já viu filmes mais profundos com atenção, não cabendo aqui a desculpa de que era um filme mais para adultos. Por fim, Anne Hathaway faz uma Rainha Branca teatral e melodramática de enjoar até formiga.

Se as pessoas gostam de tirar frases da obra de Lewis Carroll dando-lhes um valor fora do comum, permitam-me escrever que a frase do filme que mais me marcou, por incrível que pareça, e que resume todas as minhas duas considerações nesses textos vem de um vilão do filme: “Adoro cachorros. São tão fáceis de enganar...”.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A Fita Branca (ou sobre povos e ditadores).

Os ditadores sempre são vistos como demônios históricos que usurparam o poder. Vide Napoleão, Hitler, Stalin, Fidel, Pinochet e nossas ditaduras, de Vargas e a militar.

Criou-se, assim, a falsa idéia de que ditadores nunca têm apoio do povo, inclusive para subir. Isso pode ser válido em duas circunstâncias: 1- em países com guerra civil contínua e sem expressão política, como alguns países africanos e 2- quando a ditadura se desgasta, e o país começa a naufragar. Embora não possamos culpar completamente o povo por esse erro (a Alemanha de Hitler, humilhada, vivia uma das piores crises quando ele subiu nos braços do povo, e Fidel e os soviéticos subiram quando o povo de suas nações vivia na mais completa miséria e exploração) é equivocado querer inocentar toda uma população. É errado achar que todo mundo é vaca de presépio ou fazer do ditador o estelionatário, ilusionista e enganador, único expiador de nossas culpas. Como já disse, Hitler, Fidel e os soviéticos subiram sem apoio? Stalin, ao morrer, deixou milhões chorando, acotovelando-se no seu enterro, muitos morrendo sufocados ou pisoteados querendo ver o corpo do ditador.

Acaba uma ditadura, passa o tempo, os esqueletos aparecem e todo mundo se faz de horrorizado, dizendo que não apoiava fulano nem sicrano. O povo quer é se inocentar e cair fora da sua responsabilidade de colocar e dar apoio a um demônio no poder. No nosso país, amaram tanto Vargas que votaram nele posteriormente. Na minha infância, enquanto a economia brasileira ia bem, a maioria apoiava o horrendo regime militar e a minoria queria outra ditadura, a comunista. Na minha juventude, éramos quase todos comunistas. No final, a maioria queria mesmo era democracia e votar. E ainda não aprendemos, vide Collor, FHC e Lula, a preferência nacional. Alguém duvida que a maioria do povo que votou em FHC também votou depois em Lula? E vai votar em Serra? Não temos coerência nem padrão. Parece que sempre foi assim e entregamos desde a nossa cidade até a nação ao sabor das ondas, para ver no que vai dar, conforme o egoísmo ou ignorância de cada eleitor. Já comentei essa ignorância política e o apoio momentâneo egoísta do povo no tópico “Às vezes eles voltam”. Mas, não se iludam. Não existe um regime sem povo que lhe dê respaldo. Até Alexandre, o Grande, sabia como agradar o povo conquistado e os seus soldados e por isso criou um império que se expandiu tão rápido. A fita branca refletia no filme do mesmo nome uma pureza que não existia. Uma ilusão. Vamos, pois, usar todos fitas brancas!

PS irônico: Muito simples resolver o problema da rejeição da nação à convocação da selecinha do Dunga: bota o presidente Lula como técnico. Quem ele convocar, a grande maioria do povo anencéfalo apóia. Se ele perder, alguém sempre vai assumir a culpa em seu lugar e mesmo assim terá o apoio da nação. Se ele ganhar, vira santo. Pronto! Resolvido o problema! Aliás, se o povo pensasse em discutir coisas úteis e policiar o governo como policiam o técnico da selecinha, seríamos um país de alto nível.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Fim do meu Passado (À Espera de um Milagre).

Venho evitando comentários pessoais neste blog. Mas não vi alternativas neste caso, pelo que venho passando.

Os fatos que ocorreram em abril e maio, e particularmente nesta semana, foi que levaram ao fim do meu passado, que já vinha sendo dilapidado de forma muito mais contundente pela morte de meus pais e de meus entes queridos. Os fatos são prosaicos e são de uma simplicidade que podem surpreender. Mas chega-se em um ponto onde um simples piparote faz a ficha cair definitivamente.

Os marcos do meu passado foram se acabando pouco a pouco. Da infância simples no bairro do Tororó sobra a lembrança, embora o prédio onde morei continua lá. Lá passei os momentos mais felizes da minha vida até que meu pai faleceu em 1976. Mais tarde, minha mãe faleceria em 2002, deixando-me definitivamente sem pais. O agravante aqui foi o retardo com que os meus nobres colegas médicos decidiram começar uma diálise por detalhes claramente econômicos referentes à autorização do convênio, encharcando minha pobre mãe com soro e diuréticos para “ver se o rim reagia” ao pós-operatório de uma o prótese aórtica. O resultado foi um edema pulmonar, AVC e coma, com agonização na UTI e desenvolvimento de escaras que levaram a sepse (sinceramente, toda escara para mim é negligência e deveria gerar processo). Minha confiança irrestrita na ética médica, se não morria totalmente, agonizava. Isso sem contar que o cavalo troglodita que realizou a angiografia em minha mãe, antes da cirurgia, um angiologista do Hospital São Rafael, um dos reconhecido feudos de determinados grupos de especialistas, negou-se a me passar qualquer informação pertinente ao caso, além de ter me tratado e à minha mãe como cachorros.

Mas voltemos ao futuro e aos últimos acontecimentos. Encontro-me licenciado da UFBA por motivos de doença neurológica e depressão. O médico que me acompanha é ótimo e compreensivo e achou que eu deveria me licenciar de outros órgãos em que trabalho. Muito justo. De relatório na mão, encaminhei-me à junta médica do estado para licenciar-me do IML Fui bem atendido, mas recebi uma licença abaixo do solicitado e retrógrada (então trabalhei sob licença? Com a palavra os juristas). Antes que pudesse dar entrada na FTC, a denúncia de um colega de trabalho de que eu ainda dava aulas (pasmem, de um colega!) levou à suspensão da minha licença. Tudo organizado com a FTC e o INSS, entrei com novo pedido à junta do estado, sendo mal atendido e mal tratado por uma médica que se dizia psiquiatra e que chegou em alguns momentos a me deixar sozinho na sala, saindo dela aos gritos e de forma grosseira, somente por que lhe perguntei educadamente se naquele mesmo dia continuaria trabalhando ou não até que saísse o resultado da perícia. Com esses fatos, ficou solapada a minha confiança em muitos amigos e colegas de trabalho e em muitos médicos. Mais um marco que morreu no meu ingênuo passado. Desde já quero deixar claro aos leigos que o tal de corporativismo médico não existe nem nunca existiu. O que existe, pelo visto, é um cada um por si, um territorialismo e um egoísmo sem limites por parte da maioria dos colegas (não de todos, que fique bem claro). Também quero deixar claro que possuo amigos médicos espetaculares, da mais alta competência e ética. Mas claramente não formam uma maioria.

Para amenizar esta postagem, cito a queda de outros marcos anteriores: o fim da Fonte Nova, que me deu muitas alegrias em longínquo passado, a desativação e o fim do Marista do Canela, onde estudei na minha infância e adolescência e agora, nesse domingo, o fim da minha ideologia política e o definitivo fim de meu agonizante time, sempre perdendo títulos imerecidamente por mínimos detalhes nos últimos anos, não só por incompetência própria, mas pelo azar e erros de arbitragem que favorecem o seu principal rival, que nem ouso escrever o nome, e dos regulamentos esdrúxulos do campeonato regional, sem nenhuma padronização lógica.

Peço desculpas por postagem tão longa, cansativa e pessoal. Isso não mais ocorrerá. Sei que poucos vão ter paciência de ler. As pessoas gostam de ler ilusões e mensagens de alegria falsas. Meu passado acabou, da mesma forma que acabou a Salvador que conheci. Cheguei à conclusão que sou, “darwinisticamente” falando, um organismo pessimamente adaptado ao meio, às modificações ambientais e de convivência. Resta saber se serei extinto definitivamente ou conseguirei sobreviver como um fóssil vivo, cada vez mais desconfiado, fechado e anti-social. Ou se ficarei à espera de um milagre.