Começo já respondendo com opinião própria à pergunta subsequente ao título principal: gosto se discute sim senhor, a menos que nada tenha a ver com estética, mas com necessidades fisiológicas ou psicológicas. A frase "gosto não se discute" é de uma infantilidade e ilogicidade imensas. Fiquei chocado ao saber que uma aluna, em uma aula de Estética, dando sua opinião pessoal, de que a música erudita é superior às primárias composições carnavalescas caça-níqueis (não me acostumo sem o hífen e às vezes sem o trema, retirados à força da nossa língua pela ignóbil figura, por isso vou continuar escrevendo errado até a morte) da nossa “querida” terra foi atacada por diversos colegas, inclusive pela professora.
Perguntem a qualquer pessoa inteligente que entenda de música se isso não é verdadeiro. Se ela vacilar, quer fazer média ou tem medo de ser acusada de preconceituosa. É impossível achar que uma música construída historicamente, com complexidade instrumental e de acordes possa ser comparada com música repetitiva, pobre em acordes, a pretexto de se dizer que a cultura local tem que ser levada em conta. A única coisa aqui levada em conta é lavagem cerebral (o cérebro destreinado memoriza refrões fáceis com facilidade, o que é bem aproveitado por oportunistas). Faz-me crer que quem os que defenderam tamanho absurdo talvez defendam também o preconceito em si que já existe no carnaval de castas sociais e seus grandes ídolos, podres de ricos, com mansões e jatinhos particulares às suas custas.
Um conhecido meu, especialista em música clássica e grande apreciador de Mozart, confessou compor essas bobagens carnavalescas enquanto jantava ou assistia televisão, tamanha a pobreza e facilidade, para ganhar “uns bons trocados” sendo testa de ferro de outros. Mas como conheço muito da filosofia que é feita por essas bandas, sei que ela é geralmente pré-fabricada, segue correntes rígidas e não aceita críticas e discordâncias, indo contra a própria essência filosófica. Mas isso fica para outra postagem. Se gosto não se discutisse, diversos livros não existiriam, a crítica não teria lugar no mundo e ninguém perderia tempo discutindo quase nada nem em enquetes esdrúxulas pela internet.
Voltando ao primeiro assunto do título, ao contrário da imensa maioria, achei o filme “Alice no País das Maravilhas” péssimo. Nesse caso, meu gosto e o de todos é passível de discussão, por razões mais do que óbvias, e assim deve ser mesmo. Deixo claro que não passa da opinião de um pobre cinéfilo um pouco mais viajado, mas nunca especialista. Pode o filme em questão ter tido a aprovação da crítica e de 99,9% das pessoas. Pode ter batido recordes de bilheteria, mas não me convenceu. Viusalmente perfeito, é chato e não diz ao que veio. Francamente, aliás, não sou fã da obra-prima de Lewis Carroll. Embora ache nela algumas virtudes, acho que foi superestimada e virou uma espécie de sucesso com aval de considerações psicológicas furadas e de auto-ajuda chatas. O mesmo fizeram com “O Pequeno Príncipe”.
Acho que Tim Burton se perdeu na adaptação que fez deAlice no País das Maravilhas. Preferi mais a série de televisão dos anos 80 e o desenho animado da Disney. Helena Bonham Carter, uma das melhores atrizes da atualidade, perde na desfiguração que sofreu sua personagem. Aliás, se trabalhasse longe do marido diretor só teria a ganhar. Johnny Depp, a cada filme de Burton, está cada vez mais andrógino e caricato. Não faz jus aos seus bons desempenhos em outros filmes. Seu personagem é chato (como quase todos no filme), superexposto como nunca foi em nenhuma adaptação de Alice, talvez pela estranha obsessão que Burton nutre por ele. Mia Wasikowska está fraquinha como Alice. Não consegui ver metáforas feministas libertárias marcantes em suas atitudes, como alguns “alicemaníacos” viram. Largar seu insuportável noivo (que, de acordo com meu filho de 7 anos, mais parecia Rogério Ceni ou Luciano Huck) era mais do que óbvio. Meu filho, alíás, não aguentou ver o filme todo – e olha que ele já viu filmes mais profundos com atenção, não cabendo aqui a desculpa de que era um filme mais para adultos. Por fim, Anne Hathaway faz uma Rainha Branca teatral e melodramática de enjoar até formiga.
Se as pessoas gostam de tirar frases da obra de Lewis Carroll dando-lhes um valor fora do comum, permitam-me escrever que a frase do filme que mais me marcou, por incrível que pareça, e que resume todas as minhas duas considerações nesses textos vem de um vilão do filme: “Adoro cachorros. São tão fáceis de enganar...”.
É hora de mudar.
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Sem medo de dar grandes passos, afinal não se pode atravessar um abismo com
dois pulinhos.
Há 12 anos
6 comentários:
De Martinha: mas finalmente achei um cara que ñ gostou tb dessa porcaria de filme! Valeu amigo! Bjs.
Gosto realmente se discute. Quando alguém me diz: "eu gosto disso...", eu simplesmente respondo: "o simples fato de voce gostar não vai fazer com que isso deixe de ser ruim", (em alguns casos uma porcaria). Após ouvir (digo ouvir pois foi pessoalmente) sobre esse filme, fiquei sem assistir. E continuarei sem ver por um bom tempo, estou aguardando um ócio tão abissal que me permita perder meu tempo assistindo. Aproveito para agradecer a dica sobre The book of the Eli, realmente um ótimo filme.
Forte abraço.
Valeu Livi. E o contrário também pode ser paradoxalmente válido, embora eu não tenha colocado aqui para o post não ficar confuso. Às vezes não gostamos de algo que reconhecemos que tem valor (não é o caso de "Alice", para mim, que é fraco mesmo). Por exemplo, admito a qualidade dos "Beatles", mas estou muito longe de ser fã deles.
Gosto realmente se discute, como disseste, “a crítica não teria lugar no mundo” (as replicas, as opiniões de jornalistas expostas em revistas e jornais, etc.). Porém, determinados assuntos me recuso a discutir, com justificativas incontáveis e que dependem do assunto. Algumas vezes o melhor é não conhecer determinados gostos e principalmente seus porquês!
Por falar em gosto, nunca gostei da história de Alice, sempre achei o desenho da Disney um tédio total, Alice é uma “heroína” chatíssima. Não vou perder meu tempo sofrendo para ver um filme que não me provoca interesse apenas por boas críticas e exaltações nas saídas dos cinemas.
De Helena: seu filhote tá com a razão. O noivo é a cara do L Huck... Rs.Rs.Rs. E também achei o filme fraquinho, farquinho...
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