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quinta-feira, 18 de março de 2010

An Education (ou: O que querem as universidades dos professores?).

Aproveito desta feita o título de um filme recente, corrente ao Oscar, embora não tenha achado ele uma obra de arte.

O que querem as universidades dos professores? O que quer o MEC? O que querem os próprios professores?

Deixo claro de início que já tenho mestrado e doutorado. Logo, não tenho dor-de-cotovelo em criticar o peso excessivo que é dado a esses títulos. Também deixo claro de que parto dos seguintes pressupostos: 1- Não existe supremacia absoluta de um curso sobre outro. Inclusive os professores recebem o mesmo salário, não importando a sua graduação. Mas alguns cursos são muito mais trabalhosos do que outros e formam profissionais mais atuantes na sociedade. Isso é indiscutível. E isso vale também para mestrado e o doutorado. Apesar de receberem o mesmo valor, mestrados ou doutorados suados e penados em laboratórios, trabalhos de campo e/ou em ambulatórios (por favor, não me crucifiquem por minha opinião), são mais consistentes e pesados do que aqueles baseados em simples recolhimento de dados estatísticos, análise puramente pessoal de referências bibliográficas ou apanhado de entrevistas. 2- Os cursos de mestrado sofreram uma desvalorização evidente frente ao doutorado. Antigamente, tínhamos que fazer teses de mestrado. Hoje, chamam de dissertações e reduziram o tempo de conclusão.

Ora, agora cabem os seguintes questionamentos:

1- Um professor com titulação hipertrofiada (mestrado, doutorado, livre docência, pós-super-doutorado – ou pós-doctor, como costumam falar pomposamente alguns) tem maior valor ou sabe necessariamente ensinar melhor do que aquele que não tem nada disso? Muitos colegas não têm quaisquer “pós” e dão show em sala de aula, enquanto outros altamente titulados não têm o mesmo dom. E, para piorar, muitos deles passam facilmente em concursos pelo peso do currículo e nunca deram uma aula em toda a sua vida. Ainda podemos observar professores sem nenhuma atuação naquilo em que se graduaram, altamente titulados, mas sem nenhuma experiência prática que possam passar para seus alunos. Em uma época em que muito se fala em interdisciplinaridade e em cursos baseados em formar profissionais que saibam atuar isso é temerário e faz lembrar a piada de mau gosto proferida jocosamente contra nós professores: quem sabe faz, quem não sabe ensina. Soa estranho médicos que não sabem sequer tratar uma pneumonia, uma hipertensão arterial sistêmica ou uma tuberculose estarem ensinando a futuros médicos, mesmo que sejam em matérias básicas. O mesmo vale para o advogado que nunca advogou ou o odontólogo que após a formatura nunca viu uma boca aberta.

2- Se o mestrado é considerado inferior ao doutorado (o que pessoalmente acho um erro), por que o MEC, que assim estipula, não obriga que para se fazer o segundo se tenha obrigatoriamente o primeiro? Já que são enxergados como degraus em uma escada, que assim se proceda.

3- Um pesquisador com centenas de trabalhos publicados vale mais que um com poucos? Penso que depende do(s) trabalho(s). De que adianta ter trabalhos publicados que não têm nenhum impacto social ou no meio científico? Que não servem como referência para nada, a não ser afagar o ego de quem publicou?
4- Como são distribuídos os incentivos e verbas para a pesquisa? Será mesmo que se leva em conta o que coloquei no item anterior? Ou é uma distribuição cotizada, corporativista ou mesmo baseada em nomes de peso? Que chance tem um pesquisador que queira caminhar com as próprias pernas? Ou aquele que está começando? Não tenho resposta para os questionamentos desse item nem quero ser leviano insinuando qualquer coisa.

Finalizando, pergunto de novo o que querem as faculdades. Professores que saibam ensinar? Professores que saibam pesquisar? Na verdade, querem um professor que saiba fazer as duas coisas. E de preferência pagando mal. Mas há que se ter cuidado com o reverso da moeda. Alguns professores podem realizar tantas pós-graduações e cursos no estrangeiro que, quando menos se espera, já estão aposentados, tendo trabalhado efetivamente muito pouco na instituição para a qual foram contratados e pagos (mal ou bem) com dinheiro público (se não do governo, no caso das universidades federais e estaduais, com dinheiro dos alunos ou de outros órgãos, no caso das particulares).

1 comentários:

Dr. Livigstone Tavares disse...

Parabéns pelo post. Um professor universitário destemido a falar sobre os problemas que cercam o mundo acadêmico. Os diversos financiamentos, bolsas e demais espécies de “ajuda” com o qual o governo subsidia os pesquisadores e estudantes (a própria UNE, com toda uma história de lutas e reivindicações, desde que o governo atual se estabeleceu, deixou suas lutas) está impedindo os mesmos de perceber quão precária é a situação, e as tamanhas discrepâncias que ocorrem no meio científico brasileiro.

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