English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ilha do Medo.

Eis aí um grande filme. Melhor do que todos os que concorreram ao Oscar. Scorsese mostra que é de fato um grande diretor e os atores estão muito bem.

Não quero adiantar nada do filme. Mas a ilha do medo está em nosso dia a dia. A ilha do medo pode ser cada um de nós. Presos em nossos medos, ansiedades, pensamentos e obsessões. Parece que temos que criar uma realidade alternativa para fugir inutilmente da nossa ilha escarpada interior. Fingimos que somos felizes, que somos bem sucedidos, que somos importantes. Muitos criam universos paralelos em orkuts, second lifes, religiões, cirurgias plásticas, maquiagens, fotoshops, festas, etc. Muitos se desesperam e não aceitam as derrotas que a vida lhes impõe, como é o caso de famosos que caíram, ex-famosos e pessoas de fama momentânea. O resultado pode ser desde uma simples crise depressiva a atitudes desesperadas e histriônicas para aparecer. Ou mesmo ações auto-destrutivas e até mesmo o suicídio.

Temos medo, na nossa ilha interna, das atitudes que já tomamos e das que vamos tomar. A ridícula frase “não me arrependo do que fiz, mas do que não fiz” espelha isso. É uma frase tipicamente defensiva de quem quer se enganar a si próprio. É óbvio que não fazer uma coisa significa ter feito outra, significa ter tomado uma atitude. A frase por si só já contém um erro de lógica. Não fazer algo é fazer outra coisa. Em segundo lugar, não há uma pessoa na face da terra que não tenha arrependimentos. A menos que seja um psicopata ou esquizofrênico completamente desprovido de sentimentos. Se a frase típica de House é “everybody lies”, a minha seria “todo mundo se arrepende de algo”. Nesse exato momento, arrependo-me de ter feito medicina, por exemplo. Pode ser até que mude de ideia de novo.

Outra ilha do medo são as grandes cidades. Vivemos isolados em meio a uma multidão. Não sabemos em quem confiar. Podemos morrer em qualquer esquina. A minha cidade, que me perdoem os que dela gostam, causa-me medo, embora tenha nascido e morado aqui minha vida toda. Como o personagem de DiCaprio, parece que estou condenado a jamais poder escapar daqui. Uma cidade que é uma “Matrix”, cujos habitantes parecem ignorar que temos uma taxa de homicídio (por 100 mil habitantes) que supera as das badaladas Rio de Janeiro e São Paulo. Quem não acredita que consulte na internet o mapa da violência 2008. O de 2009 nunca saiu e o de 2010 pelo visto não vai sair (influências políticas?). Podemos observar que Salvador duplicou o número absoluto de homicídios em 4 anos! E o mapa só mostra a ponta do iceberg, já que, defasado, ignora os dados de 2007. Eu, que trabalho no IML, posso constatar que de 2007 em diante a coisa só fez piorar. Recife, a capital mais violenta do país, mantém-se estável. Em breve, estaremos em primeiro, já que nossas “faltoridades” nada fazem e os homicídios se multiplicam. Salvador tem hoje um dos piores PIBs por habitante dentre as capitais. Tem também um dos maiores custos de vida, a maior quantidade de analfabetos, o transporte coletivo pior e mais caro. É desabastecida de muitos gêneros e os supermercados formam um cartel. Só vive engarrafada e é impossível não encontrar filas cavalares nos serviços mais simplórios. Para autenticar um documento, gasta-se uma manhã ou uma tarde. Suas praias são lotadas e sempre sujas, desassistidas e sem opções. E podem até me dizer que toda cidade tem seus problemas. Isso não me consola (desculpa de Poliana) nem é nelas onde vivo ou pretendo um dia viver.

Duas frases no filme são marcantes e nos levam a refletir. A primeira é quando o personagem de DiCaprio chega à ilha e vê uma tabuleta que diz: “Remember us for we too have lived, loved and laughed” (perdoem ter deixado em inglês, mas não gostei da tradução da legenda e, apesar da aparente facilidade, não fui capaz de traduzir de maneira a manter o impacto e a sensibilidade). A outra, é quando o auxiliar de DiCaprio, interpretado por Mark Ruffalo, fala para ele: “Isso é uma Ilha. Sempre vão nos encontrar”.

3 comentários:

Dr. Livigstone Tavares disse...

Estou ansioso por comentar, mas continuo aguardando uma oportunidade ver o filme.

Sérgio Ricardo disse...

Pois veja. Garanto que vai gostar. preste atenção nos detalhes.

Zenon Nunes disse...

Professor, simplesmente espetacular o filme. A cada cena uma conclusão diferente surgia. E o desfeixo ... inesperado e surpreendente.

Sua crítica sobre "Ilha do medo" é digna de aplausos.Parabéns!!!

Postar um comentário