Venho evitando comentários pessoais neste blog. Mas não vi alternativas neste caso, pelo que venho passando.
Os fatos que ocorreram em abril e maio, e particularmente nesta semana, foi que levaram ao fim do meu passado, que já vinha sendo dilapidado de forma muito mais contundente pela morte de meus pais e de meus entes queridos. Os fatos são prosaicos e são de uma simplicidade que podem surpreender. Mas chega-se em um ponto onde um simples piparote faz a ficha cair definitivamente.
Os marcos do meu passado foram se acabando pouco a pouco. Da infância simples no bairro do Tororó sobra a lembrança, embora o prédio onde morei continua lá. Lá passei os momentos mais felizes da minha vida até que meu pai faleceu em 1976. Mais tarde, minha mãe faleceria em 2002, deixando-me definitivamente sem pais. O agravante aqui foi o retardo com que os meus nobres colegas médicos decidiram começar uma diálise por detalhes claramente econômicos referentes à autorização do convênio, encharcando minha pobre mãe com soro e diuréticos para “ver se o rim reagia” ao pós-operatório de uma o prótese aórtica. O resultado foi um edema pulmonar, AVC e coma, com agonização na UTI e desenvolvimento de escaras que levaram a sepse (sinceramente, toda escara para mim é negligência e deveria gerar processo). Minha confiança irrestrita na ética médica, se não morria totalmente, agonizava. Isso sem contar que o cavalo troglodita que realizou a angiografia em minha mãe, antes da cirurgia, um angiologista do Hospital São Rafael, um dos reconhecido feudos de determinados grupos de especialistas, negou-se a me passar qualquer informação pertinente ao caso, além de ter me tratado e à minha mãe como cachorros.
Mas voltemos ao futuro e aos últimos acontecimentos. Encontro-me licenciado da UFBA por motivos de doença neurológica e depressão. O médico que me acompanha é ótimo e compreensivo e achou que eu deveria me licenciar de outros órgãos em que trabalho. Muito justo. De relatório na mão, encaminhei-me à junta médica do estado para licenciar-me do IML Fui bem atendido, mas recebi uma licença abaixo do solicitado e retrógrada (então trabalhei sob licença? Com a palavra os juristas). Antes que pudesse dar entrada na FTC, a denúncia de um colega de trabalho de que eu ainda dava aulas (pasmem, de um colega!) levou à suspensão da minha licença. Tudo organizado com a FTC e o INSS, entrei com novo pedido à junta do estado, sendo mal atendido e mal tratado por uma médica que se dizia psiquiatra e que chegou em alguns momentos a me deixar sozinho na sala, saindo dela aos gritos e de forma grosseira, somente por que lhe perguntei educadamente se naquele mesmo dia continuaria trabalhando ou não até que saísse o resultado da perícia. Com esses fatos, ficou solapada a minha confiança em muitos amigos e colegas de trabalho e em muitos médicos. Mais um marco que morreu no meu ingênuo passado. Desde já quero deixar claro aos leigos que o tal de corporativismo médico não existe nem nunca existiu. O que existe, pelo visto, é um cada um por si, um territorialismo e um egoísmo sem limites por parte da maioria dos colegas (não de todos, que fique bem claro). Também quero deixar claro que possuo amigos médicos espetaculares, da mais alta competência e ética. Mas claramente não formam uma maioria.
Para amenizar esta postagem, cito a queda de outros marcos anteriores: o fim da Fonte Nova, que me deu muitas alegrias em longínquo passado, a desativação e o fim do Marista do Canela, onde estudei na minha infância e adolescência e agora, nesse domingo, o fim da minha ideologia política e o definitivo fim de meu agonizante time, sempre perdendo títulos imerecidamente por mínimos detalhes nos últimos anos, não só por incompetência própria, mas pelo azar e erros de arbitragem que favorecem o seu principal rival, que nem ouso escrever o nome, e dos regulamentos esdrúxulos do campeonato regional, sem nenhuma padronização lógica.
Peço desculpas por postagem tão longa, cansativa e pessoal. Isso não mais ocorrerá. Sei que poucos vão ter paciência de ler. As pessoas gostam de ler ilusões e mensagens de alegria falsas. Meu passado acabou, da mesma forma que acabou a Salvador que conheci. Cheguei à conclusão que sou, “darwinisticamente” falando, um organismo pessimamente adaptado ao meio, às modificações ambientais e de convivência. Resta saber se serei extinto definitivamente ou conseguirei sobreviver como um fóssil vivo, cada vez mais desconfiado, fechado e anti-social. Ou se ficarei à espera de um milagre.
É hora de mudar.
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Sem medo de dar grandes passos, afinal não se pode atravessar um abismo com
dois pulinhos.
Há 12 anos
6 comentários:
Cansativo? não!!!! necessário.
saiba .eles são muitos.... mais não podem voar......
vc vai superar todos esses obstáculos. Acredite!
Querido Sergio, entendo o que vc sente. Ha pouco tempo, achei que deveria desistir do ser humano. O mundo ta cheio de homem-bomba que aceita se destruir pra prejudicar o outro. Ultimamente, contudo, comecei a notar que o amor e a amizade vinham, tambem, de onde eu menos esperava. Eu decidi (e eh uma decisao drastica) amar as pessoas, nao importa o que elas facam... ainda nao consegui implementar esse projeto plenamente, mas tem me ajudado muito. Eu simplesmente nao espero nada, nem de bom nem de ruim. E tenho tido surpresas muitos boas. Tenha certeza de que vc tem em mim uma amiga e admiradora, que esta doida pra sentar com vc e conversar sobre As Memorias do Livro - fantastico! E aproveite que vc tem uma mulher e tanto do seu lado. Acho que se eu fosse homem, vc teria um adversario, rs. Ela eh muito sabia na forma como conduz a vida.
Sentimos suas falta entre nos.
Um beijao!
Marcelinha
Meu querido Sérgio,
Sinto saudades e entendo o seu sofrimento.
Apesar de ser ainda muito jovem, sei o que é perder pessoas e momentos importantes que fizeram parte da minha vida. Porém aprendi que as nossas atitudes fazem toda a diferença para sabermos viver com essas perdas...
Você é um grande homem, tem amigos verdadeiros e uma família maravilhosa. E mais que isso, tem um Deus grandioso em bondade e misericórdia. Isso faz parte da sua vida e é o que move o seu futuro.
Tem um gigante adormecido dentro de você, querido amigo. Em muito breve sei que esse gigante voltará a iluminar a vida dos que te amam.
Saiba que estou a sua disposição para o que precisar, ainda que a minha ajuda não seja tudo o que você merece.
"Você é meu e o boi não lambe!"
Fica com Deus e com Jesus em seu coração.
Abraço,
Bruninho
Muito brigado pessoal, pelas palavras de apoio. Que bom que tiveram paciência de ler. Infelizmente, estou mesmo com poucas esperanças. Acho que pela nossa justiça mesmo, pelo nosso país, talvez em mim mesmo. Marcelinha, Dalvinha é mesmo tudo isso que você falou e muito mais. Graças a ela devo minha permanência aqui.
Tio Sérgio... Sinto ler tais coisas, e ouvir outras que cercaram sua existência. Infelizmente tenho que reconhecer que sua visão nao é pessimista e sim cruelmente realista. Eu tenho metade de sua idade, e já vejo os ícones de minha inf^ancia também sendo destruídos, colégios, ideologias políticas, coisas que menos de 10 anos atrás eram sonhos, esperanças, eram minha vida. Apesar de todo esse desamor do mundo para conosco, temos algumas coisas que ainda fazem nossa vida valer a pena, fazem nossa esperança não morrer. Além de nossas crenças crista~s também temos pessoas (poucas) que nos amam. Não queria ser invasivo acerca de sua vida pessoal, então vou citar apenas uma pessoa, SERGINHO, ele é uma alegria que nasceu em meio as ruínas. Eu sempre precisei de um pai, ela nunca estava por perto, o senhor sabe o quanto seu pai lhe faz falta, então... Mesmo em face a tudo isso, que o senhor continue presente, triste mas de pé, ao lado de nós que lhe amamos.
Obrigado Livi. Vou continuar sim. Até quando o destino permitir. Ainda não estou de pé, como queria. Mas, quem sabe, um dia me recobro.
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