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domingo, 3 de abril de 2011

A unha encravada e a medicina na Bahia.


Confesso que não sou chegado a sensacionalismos, mas não posso deixar passar em branco o que vem acontecendo com a minha esposa. Por preferir utilizar o seu convênio, foi a uma clínica no Barbalho, o INSBOT, há cerca de pouco mais de 2 semanas, para resolver um simples problema de unha encravada. O médico de plantão, pasmem, não se achou capacitado (foram suas próprias palavras) para resolver o problema (!!!). Passou antibióticos inúteis, como é de praxe e mandou-a fazer um curativo dos mais simples, que, de tão bem feito, ao chegar em casa, caiu em bloco... Aconselhei que ela fizesse o procedimento comigo, que providenciaria com amigos o que fosse necessário, mas ela, temendo talvez possíveis complicações envolvendo um médico tratando um ente querido, resolveu que, mesmo não duvidando da minha competência, preferiria esperar.

Antes de mais nada, não consigo entender como médicos atendem pacientes sem medir a pressão arterial, o básico dos básicos, não interessando qual a sua especialidade, seja oftalmologia, otorrino, etc. Também não consigo compreender de onde surgiu tamanha falta de competência da maior parte dos médicos. Engraçado que eu, quando simples interno de CLÍNICA MÉDIA (repito, não de cirurgia), passava intracath em meus pacientes internados, realizava pequenas cirurgias, entubava e retirava unhas encravadas até de vizinhas diabéticas, na própria residência delas (sem cobrar um tostão), sem nenhuma ocorrência de complicações. Quando residente recém formado, aprendi SOZINHO COM MEUS LIVROS (parece até título de filme ou romance) a realizar punções e biópsias articulares, punções abdominais e torácicas, sem, repito, nenhuma complicação posterior. Não que eu fosse ou seja grande coisa. É que algo pior aconteceu de lá para cá que eu ignoro. Aumento indiscriminado das vagas nas faculdades? Preguiça ou má vontade? Piora do ensino (teoria da qual duvido, pois não aprendi quase nada na faculdade)? Leniência dos professores fazedores de média? Baixos salários da classe, obrigada a ter 1001 empregos?

Mas o drama não parou por aí. Ontem, minha esposa procurou atendimento pelo mesmo problema na emergência do Hospital Salvador. O HS, às portas de fechar, não a atendeu porque não tinha cirurgiões de plantão (ou seja, a maioria dos clínicos ignoram totalmente como tratar unhas encravadas...). No Hospital Santo Amaro não faziam atendimentos de emergência. Voltou ao mesmo INSBOT, mas o médico disse que não poderia realizar o procedimento, pois a clínica (que tem um serviço de EMERGÊNCIA) não permitiria mais àquela hora (em torno de 18:00 horas!).

Isso me fez lembrar, claro que de forma reduzida, o martírio que passou minha mãe antes de morrer. O distinto chefe da Angiologia do Hospital São Rafael (hospital dividido em feudos – ou seja, mesmo pagando o seu convênio, você não pode escolher o seu médico se ele não for do hospital, tendo que aceitar, de qualquer forma, as imposições deles) ao realizar uma angiografia, tratou-a grosseiramente, não respondeu ao que lhe perguntei (sabendo que tratava com um colega, e, antes de qualquer coisa, com um ser humano que vivia uma aflição), apenas limitando-se a dizer “cavalarmente” que o caso era gravíssimo e eu que procurasse respostas com o médico dela... Ao realizar a cirurgia (muito bem feita, por sinal), padeceu pelo retardo da UTI do Hospital Salvador, à época, em entrar com um procedimento de diálise, por questões de autorização ou não do convenio (ou seja, a vida do paciente não é nada diante de cifras). Esse atraso de um dia inteiro levou minha mãe a desenvolver um edema pulmonar um acidente vascular encefálico e padecer até a morte por semanas na referida UTI. Isso sem falar da usual escara de decúbito infectada, que a levou à sepse, retrato máximo da negligência dos nossos queridos hospitais, que deveriam receber processos por isso, mas parece que os advogados ou os pacientes ignoram os direitos, em um país onde escara de decúbito em pacientes internados é considerada surrealisticamente normal...

9 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pela coragem Dr. Sérgio. Sou advogado e me deparei com referências sobre este seu post. Por grande coincidência, tenho uma irmã que sofreu grosserias de um Dr. "Cavalo" do "hospital dos feudos", que penso ter sido o mesmo que atendeu sua falecida genitora. Já estou tomando as referidas providências legais. Se todo mundo fizesse o mesmo, acabariam as grosserias, as imperícias e as negligências aqui relatadas, especialmente a aceitação social, por ignorância, da normalidade das escaras em pacientes internados, onde acredito que o hospital e o corpo de enfermagem tem mais responsabilidade do que os médicos, embora estes últimos pequem por passividade quanto ao problema. Compreendo, bem como o senhor, acredito, que toda classe tem maus profissionais, inclusive a minha. Mas onde reina a impunidade e o descaso, esses profissionais e as instituições a eles associadas proliferam de forma rampante. Post importantíssimo que devia ser lido por todos, especialmente profissionais jurídicos e da área de saúde.

Respeitosamente, Dr. Bruno W.

Anônimo disse...

Além de reinar a impunidade,o corporativismo sobrepoem-se a falta de humildade, civilidade e o mais importante a total ausência dos médicos dos médicos no coração, JESUS CRISTO. Robson Luiz.

Sérgio Ricardo disse...

Caro Bruno W., agradeço sua atenção e concordo com tudo. O caminho é esse. Conte comigo, se precisar.

Amigão Robson, o corporativismo na classe médica é mínimo, por incrível que pareça. Grande parte dos médicos não tem "carinho" nenhum pelos colegas. E talvez isso ocorra também em odontologia. Há médicos que desrespeitam colegas mudando prescrições só para mostrar serviço, invadindo prontuário alheio, questionando condutas corretas, etc. Outro problema é que o CREMEB não recebe denúncias dos pacientes ou parentes, ficando impossibilitado de atuar, pois eles pensam que toda a classe é corporativa. O caso é tão grave, que há um VETERINÁRIO exercendo Medicina Natural (seja lá o que seja isso), cobrando caro e ninguém denuncia o indivíduo. Que dirá médicos que estão errados, como os que eu citei, como até casos mais graves, como médicos abortando sem critério, fazendo caixa dois com farmácia de manipulação, vendendo atestados para abonar faltas de alunos e para o INSS (e são meia dúzia, conhecidíssimos). Em alguns desses casos, como você pode perceber, o paciente é conivente por benefício próprio ilícito.

Sérgio Ricardo disse...

E mais uma vez, Robson, muito obrigado pela frequencia ao meu blog, muito obrigado por sua divulgação e interesse, muito obrigado pela leitura que você fez no espaço Advir, muito obrigado por ser meu amigo. Um forte abraço, amigão.

Anônimo disse...

De Jânio,

Como estudante de Medicina, só posso sentir vergonha disto. Parabéns por ter coragem professor. Sempre lhe conheci assim. Com coragem para denunciar, coragem para falar a verdade enquanto muitos pensam que é pessimismo e outros se revoltam por pegar a carapuça, coragem por nunca fazer média, coragem para dizer que ensinar não é só passar conhecimento, mas também ter a humildade de buscar aprender com os alunos, coragem até para admitir as raras vezes em que se equivocava, o que, é claro, não é o caso aqui, onde tem toda a razão. Abraços mais uma vez, mestre.

Sérgio Ricardo disse...

Mais uma vez agradeço por me chamarem de corajoso. Mas também tenho meus medos. Um deles é de ser um dia paciente do açougueiro feudal ou dos assassinos de minha mãe e do meu pai.

Anônimo disse...

OI Sergio Ricardo é lamentável toda essa angustia.
Mais vc poderia recomendar algum medico que faça intervenção cirúrgica em unhas encravadas?
Vou deixar meu email, espero respostas.
Moro em Salvador.
Minha filha sofre muito com unha encravada tem que fazer cirurgia e não estou achando nem clinica nem medico.
Vc pode me ajudar?
elyscardoso2006@hotmail.com
Atenciosamente:
Elisângela.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ola por favor me diga livros que vc tenha lido para este tipo de microcirurgia de unha , preciso muito .
lais.ferreirasantos@hotmail.com
desde ja muito Obrigada Dr

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