Aos mais incautos, antes que pensem que vou falar sobre fofocas escandalosas, o título remete a um curioso e bom filme que assisti quando era jovem (e não o sou mais, não obstante alguns chatos de galocha leitores de livrecos de auto-ajuda, que têm idade próxima da minha ou maior do que ela, acharem-se na flor da idade). Aproveito essa época pós-Oscar pra relembrar filmes de arte do “meu tempo”. Não sei por que, o filme referido no título me lembra o atual quadro de sucessão presidencial. Senão vejamos:
O cozinheiro, no filme um artista da culinária, que detestava o ladrão que era o seu patrão, aqui é aquele candidato que de artista só tem a conversa. Cozinha, cozinha e cozinha, como é costume do seu partido, não sabe o que quer, não tem coragem de falar mal do ladrão e é farinha do mesmo saco dele. Se no final do filme participa de um insólito ato de revolta, aqui participa de um final que qualquer que seja levará à mesma coisa: inflação maquiada, aumentos populistas do salário mínimo, arrocho de impostos e massacre da classe média. Até hoje não conseguem me explicar como um automóvel que custava R$ 38.700,00 em 1999 hoje custa mais de 100.000. Tampouco os aumentos absurdos nos preços dos laticínios, frango, etc., etc.
A mulher, que no filme tinha raiva do seu violento marido, o ladrão, aqui gosta dele, apóia-se nele, usufrui de seu legado e não tem ele como marido na acepção da palavra, mas como “marido político”. Se tudo continuar como está, deverá vencer o indeciso cozinheiro e o seu apatetado partido. Não tem (pelo menos que se saiba) nenhuma ligação política com o amante.
O amante aqui é um governador jovem, indeciso, namorador (amante, entenda-se, de terceiras). Não sabe com quem joga. Ao contrário do amante intelectual e leitor compulsivo de livros do filme, é ambicioso e prefere apostar depois da poeira baixar.
O ladrão parece um pouco com o do filme, até nas grosserias, na ignorância e mesmo fisicamente. No filme, mata o dono de um restaurante e se apropria dele. Oprime a própria esposa e a espanca. Aqui, não mata ninguém, parece respeitar muita a sua esposa, sempre a levando a tiracolo, mas tem uma máfia de fiéis seguidores, prontos até mesmo ao sacrifício pelo seu líder. É tão poderoso que parece ter uma milícia a postos em todos os âmbitos da sociedade, até na internet, ofendendo e censurando quem lhe faz oposição, como se isso fosse proibido em um país democrático. Até estudantes e professores universitários lhe dão apoio irrestrito e cego. Ao contrário do ladrão do filme, entretanto, é inteligente politicamente, faz aliança com gregos e troianos, ludibria a todos e só vive viajando. Ao contrário do ladrão do filme, deverá terminar bem a sua história. Vou parando por aqui, antes que me censurem ou me ameacem.
Uma coisa é certa. A sucessão presidencial também me lembra o chamado do cartaz do filme “Alien x Predador”: “Não importa quem ganhe, você perde”.
É hora de mudar.
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Sem medo de dar grandes passos, afinal não se pode atravessar um abismo com
dois pulinhos.
Há 12 anos
2 comentários:
Não acredito que tinha passado por este post, ele sumiu dos últimos e acabei ficando sem ler. Cheguei atrasado, mais não tarde demais. Tanto que Aécio Neves continua esperando a poeira baixar. Esse post está longe de se tornar obsoleto. Fiquei querendo ver o filme para também fazer a comparação física a qual o senhor se refere.
Pelo menos você viu o post. Estava achando (o que não é o seu caso) que tinha mais gente partidária do viajante boa vida do que eu pensava. Escrever contra ele afasta os comentários, ou por preferência política, ou por querer ficar do lado de quem está ganhando, ou por medo de se expor. Vai ser difícil achar o referido filme numa época de cinema descartável que estamos vivendo. O descartável aqui não é propriamente crítica à qualidade da maioria dos filmes, você entende.
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