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sábado, 27 de março de 2010

Ladrão de Corações

Na verdade, o título deveria ser no plural. Todos nós sabemos, mas poucos de nós e nem sempre em todas as circunstâncias reconhecemos, que existem pessoas ou instituições que funcionam como ladrões de corações. Ou seja, dissimulados e simulados, enganam pessoas ou mesmo quase toda uma sociedade com argumentos falaciosos, jogadas de marketing e muita lábia. Além de tudo, são oportunistas como abutres e sabem a hora certa de cair sobre a carniça. Enquadram-se em uma das duas ou em ambas as citações de Epicuro para o que é falso: não são e parecem ser (simulação) e/ou são e não parecem ser (dissimulação).

Tais pragas assolam a humanidade de forma monstruosa. Dão grandes políticos ou governantes, grandes líderes religiosos ou grandes companhias. Como alguém vota e até briga por aquele político corrupto? Como ditadores (que segundo alguns historiadores são odiados pelo povo) são adorados e conduzidos ao poder com apoio da maioria? Como bandidos travestidos de santidade vivem de explorar fiéis criando religiões? Como alguém consegue gostar dos sanduíches artificiais de certas multinacionais, pequenos, caros e sem gosto? A resposta está no marketing e no comportamento psicológico de rebanho da sociedade?

A um nível de menor escala, temos os estelionatários, os sedutores e até mesmo alguns atores, apresentadores, profissionais liberais e professores. Na época de estudante universitário, tive um professor que todos santificavam e achavam o máximo. Quando alguns de nós paramos para refletir e esprememos o conteúdo das suas aulas, vimos que era mínimo, em sua maior parte inútil e repetitivo.

Transcrevo abaixo artigo de hoje de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo. Tirem as suas conclusões, mas desde já deixo claro que não quero ferir a religião nem a preferência política ou gastronômica ou etc. e tal de ninguém e por isso não citei nomes no que escrevi acima:

CLÓVIS ROSSI

“Assim na Terra como no céu”

“Ante denúncias, Vaticano usa como defesa o mesmo argumento utilizado pelo lulo-petismo no mensalão”


“Quando cobria a eleição do papa que viria a ser Bento 16, conversei informalmente com um cardeal-eleitor que chegou a figurar, ainda que tangencialmente, na lista (imensa) de "papabili".
Disse-me, a horas tantas, que, ao fim e ao cabo, quem decidiria a eleição seria o Espírito Santo, que sopraria ao ouvido de cada cardeal o nome certo para conduzir a igreja.
Creio que os católicos, pelo menos os não fundamentalistas, me perdoarão a irreverência de ter pensado que o Espírito Santo era um brincalhão. Só se explicaria a necessidade de sucessivas votações se Ele soprasse um nome ao ouvido de uns quantos cardeais, outro nome a um número menor, um terceiro ou quarto aos demais eleitores, em vez de dizer de uma boa vez o nome definitivo a todos.”
Essa origem divina do papa torna ainda mais chocante o fato de "L'Osservatore Romano", a palavra oficial da igreja, ter recorrido à mesmíssima argumentação do lulo-petismo para reagir à reportagem do "New York Times" sobre a omissão de Joseph Ratzinger no caso do sacerdote Lawrence Murphy, que abusou de cerca de 200 crianças surdas.
Para o jornal do Vaticano, a reportagem não passa de "evidente e ignóbil intento de atingir, a todo custo, Bento 16 e seus colaboradores”.
Não lembra a desonesta alegação dos petistas, inclusive da academia e da imprensa chapa-branca, de que a mídia conspirava contra o presidente Lula no episódio do mensalão? Todo o mundo sabia que a única conspiração era a dos fatos, tanto que o presidente se viu forçado a pedir publicamente desculpas, além de alegar que o PT fez "o que todo mundo faz", aludindo a um suposto caixa dois, que, de todo modo, "é coisa de bandido", conforme afirmou à época o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
O que espanta, no caso do Vaticano, é que havia alguma "rationale" no lulo-petismo, embora torpe: é óbvio que a oposição tentaria usar os fatos para atingir o governo, com fins eleitorais. No caso do papa, como a eleição é decidida pelo Espírito Santo, que tipo de interesse poderia haver em atingi-lo?
Anticlericalismo? Pode ser, mas não é ele, e sim os fatos, que podem atingir a igreja. Culpar o jornal é tentar quebrar o espelho para que não mostre o lado feio de uma "instituição que, por séculos, carregou os ideais de dignidade, amor e solidariedade na sociedade ocidental", como escreveu ontem nesta Folha Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador de projetos do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
É essa carga histórica, não o anticlericalismo, que torna mais chocante a sequência de episódios de abusos cometidos por sacerdotes. É também ela que torna indefensável o argumento de que os casos de pedofilia envolvendo religiosos são uma parcela ínfima dos abusos cometidos por outros atores.
Quando surgiram denúncias na Alemanha, um religioso chegou a calcular que, dos 210 mil casos de abusos denunciados no país desde 1995, só 94 (0,044%) envolveram pessoas da Igreja Católica.
Aritmeticamente, é verdade. Mas não pode servir de habeas corpus para os que são dirigidos pelos que conversam com o Espírito Santo, não souberam respeitar a santidade do corpo alheio e ainda ocultam os pecados culpando o espelho.”

7 comentários:

Lil@ disse...

O lobo nunca perde o hábito de colocar a pele do cordeiro!
É terrível como as pessoas conseguem se aproveitar das outras, omitir fatos, mentir descaradamente. Impossível não desconfiar quando um atendente com um belo sorriso te propõe: ‘não quer deixar seu troco para caridade’ (ou algo do tipo). A caridade para muitas empresas e pessoas é pura fachada, estratégia, dificilmente um ato de bondade.
Gostei do post.
ah! eu tbm tive um professor assim!
um abraço!

Dr. Livigstone Tavares disse...

Acho improvável que alguém possa se ofender com tais comentários. Todavia aprecio sua discrição ao falar acerca de algumas coisas, como do McDonald's, etc. Assim como Lilian citou no comentário acima eu também digo: "tive um professor assim". Sinceramente não sei se essa percepção das coisas nos faz bem ou mal. Aparentemente a cada momento em que percebemos de forma mais nítida o mundo que nos cerca ficamos mais desolados e deprimidos por contemplar a triste realidade. Não sei se estou em um surto de loucura, mas por vezes invejo a completa e absoluta ignorância.
Um abraço grande ao Mestre SR.

Sérgio Ricardo disse...

Grato pelos comentários. Pelo visto, todos nós tivemos professores "show-mans": muito jogo de cena, muito gogó e pouco conteúdo.

O pior são profissionais "show-mans", como certos médicos, advogados, contabilistas, odontólogos, etc., etc., sempre perfumados, elegantes e altivos, mas nunca resolvendo coisa nenhuma dos seus pacientes/clientes.

Dr. Livigstone Tavares disse...

Seu blog tem mais um seguidor que também adicionou um link para seu blog: http://marcondesalberto.blogspot.com/

Sérgio Ricardo disse...

Reaparei! Que seja bem vindo e se considere meu amigo!

Anônimo disse...

Ô Serjão, todo mundo sabe quem é o teacher impostor. Mas sei que sua ética lhe impede de dizer. Nem vou dizer, para você não apagar meu comentário... Sou fã do teu blog brother!

Sérgio Ricardo disse...

Perfeitamente amigão... E continua na ativa. Ou melhor, na inativa...

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